sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Memórias sem lembranças

Final de semana passado estive na casa da minha mãe. No domingo celebramos seu aniversário e também o de outros dois tios. Minha avó, dona Esther, esteve presente. Ao chegar, como sempre, ela me abraçou muito forte e chorou emocionada. Falou que estava com saudades e sobre como era bom me rever. Na verdade, tenho certeza que ela não se recordava de quando fora a última vez que havíamos nos visto. Não que fizesse tanto tempo assim. Minha avó padece de uma triste moléstia: o Mal de Alzheimer. Por vezes chego a ter um pouco de pena do tal alemão. Quem gostaria de ter seu nome associado à tão infeliz doença?

Sentado ao seu lado com meu braço esquerdo passando por sobre seus frágeis ombros, ela segurava e apertava a minha mão. Em silêncio aproveitávamos a presença um do outro. Enquanto acarinhava o músculo flácido de seu braço, intercedia em pensamento pedindo a Deus que desse a ela sossego, paz... Vez ou outra ela dizia alguma coisa: "Lembra, filho, quando éramos só você eu eu?". E ela chorava sentindo saudades de uma época que nunca existiu. Em minha mente eu respondia:"Vó, nunca houve este tempo", mas não em meus olhos. Meus olhos apenas sorriam para ela.

"Vovó, querida! Na glória iremos nos lembrar de todos os bons momentos que passamos. Lá passaremos ainda tantos outros juntos e, então, teremos toda a eternidade para nos recordar..."